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Valor da água corporal total, o que significa realmente?

Muitas vezes durante uma consulta de nutrição quando se tem de explicar os parâmetros antropométricos, nomeadamente, a percentagem de água corporal total, as pessoas ficam a pensar que esse valor está exclusivamente relacionado com a água que se bebe, no entanto é muito mais do que isso. Neste artigo, vou explicar o que é que influencia este parâmetro.


A água corporal total diminui com a idade inclusive nos indivíduos saudáveis (Baumgartner et al., 1995; Gallagher et al., 1995; Ritz et al., 2001). A diminuição da água em parte deve-se ao aumento da massa gorda e ao decréscimo da massa magra que ocorre no processo de envelhecimento. Isto é de extrema importância, especialmente nos idosos, uma vez que a diminuição de água corporal total pode levar à diminuição da transpiração, da função renal, da resposta à sede, assim como à desidratação (Phillips et al., 1984; Maze Lauren, 2016).


O peso do corpo humano é constituído por 50 - 70% de água (Sawka et al.,1999). A água corporal total (TBW) é distribuída ao longo dos compartimentos corporais intracelulares e extracelulares. O compartimento intracelular, que contém aproximadamente dois terços da TBW, está relacionado ao conceito da massa celular corporal, que representa o compartimento corporal que é rico em potássio, é consumidor de oxigénio e metabolicamente ativo (Moore et al., 1963). O compartimento extracelular, que representa um terço da TBW, está composto pelo espaço intersticial, vascular (plasma) e transcelular. O fluido intersticial, constitui mais de três quartos do fluido extracelular (ECF), é a solução onde são “banhadas” as células e fornecidas de nutrientes e é também a localização onde ocorrem os maiores processos celulares. O plasma, que constitui um quarto do ECF, fornece nutrientes às células e proteínas para o processo de coagulação. A contribuição do fluido transcelular no ECF é relativamente pequena, cerca de 1 a 2 litros. O fluido transcelular inclui fluidos como cerebrospinal, intraocular, pericárdica, peritoneal e fluido sinovial (Maze Lauren, 2016).


De uma forma simplificada, a composição corporal pode ser examinada como dois modelos de compartimentos: o compartimento de massa livre de gordura, e o compartimento de massa gorda. A água corporal é contida somente no compartimento da massa livre de gordura porque a gordura é anídrica (Maugham, 2003).



Fatores que influenciam a água corporal:


Um dos fatores mais importantes que influenciam a água corporal é a composição corporal. A massa magra que está constituída por músculos, ossos, tendões, ligamentos e órgãos, contém cerca de 73% de água (Ferry, 2005; Van Loan & Boileu, 1996). A gordura é anídrica e por isso a massa gorda contém aproximadamente só 10% de água (Van Loan & Boileu, 1996). Por isso, um indivíduo com uma elevada percentagem de gordura corporal irá conter menos água corporal que um indivíduo do mesmo tamanho e medidas, mas com uma quantidade maior massa muscular. Os homens saudáveis têm tipicamente uma maior percentagem de água corporal que as mulheres, maioritariamente devido ao tamanho do corpo e à massa muscular (Edelman, 1962; Lesser & Markofsky, 1979).


De acordo com a evidência científica, a massa magra diminui com a idade enquanto que a massa gorda aumenta. Este processo é conhecido como sarcopenia, que é a diminuição progressiva da massa muscular que ocorre com a idade, a sarcopenia é o fator principal na perda de massa magra, especialmente nos homens (Maze Lauren, 2016). Após os 60 anos de idade, a diminuição de massa magra aumenta (Kyle et al., 2001; Chumlea et al., 1999; Pritchard et al., 2000). À medida que o corpo vai perdendo músculo, também vai perdendo a correspondente quantidade de água contida no músculo. A acumulação de gordura (visceral e subcutânea) acrescenta uma quantidade de água insignificante devido às características hidrofóbicas dos lípidos. Deste modo, a perda de massa muscular no processo de envelhecimento contribui para a diminuição da água corporal total e da água intracelular comumente encontrada nos idosos (Heymsfield et al., 1989).



Fontes de água:


Existem três fontes principais de ingestão de água. Para além do consumo de água, uma parte da nossa ingestão de água provém dos alimentos que consumimos e da água que produzimos através da oxidação dos macronutrientes. Mais de 70% da necessidade de fluidos diários pode ser atingida através da nossa


alimentação (Wotton et al., 2008). A maioria das frutas e vegetais contém entre 70% e 99% água, enquanto as leguminosas e as carnes contêm entre 35 e 60% respetivamente (Popkin et al., 2010; Davidhizar et al., 2004).


Importância da água:


Uma vez que a água abrange a maior parte do corpo humano, desempenha uma variedade de funções importantes, como por exemplo: serve como meio de transporte para fornecer às células nutrientes através da corrente sanguínea, elimina resíduos através da urina, ajuda a manter a estrutura dos tecidos, suporta o funcionamento celular, lubrifica as articulações e superfícies do corpo (Maze Lauren, 2016).



Benefícios de um consumo adequado de água:


Tem sido demonstrado que um consumo diário adequado de água pode ter múltiplos benefícios para a saúde. O requerimento varia de acordo com o indivíduo por causa da idade, gênero, composição corporal, nível de atividade e temperatura e é definido como a quantidade de água necessária para manter a homeostase em ambos compartimentos corporais, o intracelular e o extracelular (Ferry M, 2005).


Tendo em conta esta informação é possível verificar que a percentagem de água corporal total é influenciada não só pela quantidade de água que ingerimos, mas também pela composição corporal visto que ao termos uma maior quantidade massa muscular e uma menor quantidade de gordura corporal iremos ter valores mais elevados de água corporal o que representa valores mais saudáveis.


 

Por: Daniela Silva: Nutricionista do clube de saúde Kalorias Castelo Branco, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas nº3848N

 

Referencias bibliográficas:


Baumgartner RN, Stauber PM, McHugh D, Koehler KM, and Garry PJ. Cross-sectional age differences in body composition in persons 60+ years of age. J Gerontol 1995, 50A:M307- M316.


Gallagher D, Visser M, De Meersman RE, Sepulveda D, Baumgartner RN, Pierson RN, et al. Appendicular skeletal muscle mass: Effects of age, gender, and ethnicity. J Appl Physiol 1995, 83:229-239.


Ritz P, Investigators of the Source Study and of the Human Nutrition Research Centre-Auvergne. Chronic cellular dehydration and the aged patient. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2001, 56:M349–M352.


Phillips PA, Rolls BJ, Ledingham JG, et al. Reduced thirst after water deprivation in healthy elderly men. N Engl J Med 1984, 311:753–759


Maze, Lauren, "The effects of different exercise regimens on body water compartments in younger and older adults" (2016). Graduate Theses and Dissertations. 15074. https://lib.dr.iastate.edu/etd/15074


Sawka MN and Coyle EF. Influence of body water and blood volume on thermoregulation and exercise performance in the heat. Exerc Sport Sci Rev 1999, 27:167-218


Moore FD, Olsen KO, McMurrey JD, Parker HV, Ball MR, Boyden CM. The body cell mass and its supporting environment. Philadelphia: WB Saunders, 1963.


Maughan RL. Impact of mild dehydration on wellness and on exercise performance. Eur J Clin Nutr 2003, 57(Suppl 2):519-523.


Ferry M. Strategies for ensuring good hydration in the elderly. Nutr Rev 2005, 63(6):S22-S29


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Kyle UG, Genton L, Hans D, et al. Age-related differences in fat-free mass, skeletal muscle, body cell mass and fat mass between 18 and 94 years. Eur J Clin Nutr 2001, 55(8):663-672.


Chumlea WC, Guo SS, Zeller CM, et al. Total body water data for white adults 18 to 64 years of age: The Fels Longitudinal Study. Kidney Int 1999, 56:244-252.


Pichard C, Kyle UG, Bracco D, et al. Reference values of fat-free and fat masses by bioelectrical impedance analysis in 3393 healthy subjects. Nutrition 2000, 16:245-254.


Heymsfield SB, Wang J, Lichtman S, et al. Body composition in elderly subjects: a critical appraisal of clinical methodology. Am J Clin Nutr 1989, 50(5):1167-1175.


Wotton K, Crannitch K, Munt R. Prevalence, risk factors and strategies to prevent dehydration in older adults. Contemp Nurs 2008, 31:44-56.


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