O cancro, definido como um crescimento descontrolado e anormal de células no organismo (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2005), é a segunda maior causa de morte em todo o mundo.
Tem origem em múltiplos fatores (www.uicc.org), tais como:
- Nutricionais/comportamentais
- IMC Elevado
- Baixa ingestão de legumes/Fruta
- Sedentarismo
- Tabagismo
- Álcool
- Infeções
- Hereditários (genéticos)
O estudo dos efeitos do exercício físico em diferentes momentos – prevenção, após diagnóstico, durante o tratamento e sobreviventes da doença - assume grande importância pois contribui para:
minimizar os processos degenerativos associados ao cancro;
promover alterações comportamentais ligadas ao estilo de vida (autoestima, bem-estar, sexualidade, qualidade do sono, ansiedade, depressão, fadiga e dor);
reduzir os riscos de recorrência da doença;
melhorar a capacidade funcional a médio e longo prazo (incluindo aumento da força, resistência à fadiga, flexibilidade e capacidade aeróbia) e melhorar o sistema imune. (KISNER; COLBY, 1992).
O exercício físico tem sido apontado como estratégia para a prevenção da doença e reabilitação de indivíduos durante e após o tratamento (cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonoterapia e terapias biológicas) atuando como efeito atenuador dos efeitos resultantes dos tratamentos aplicados. Entre esses efeitos estão as náuseas, vómitos, dores, insônia, perda de apetite e fadiga (ADAMSEM et al., 2009).
A fadiga, mesmo após o descanso, pode durar meses após o fim dos tratamentos e é um dos efeitos mais relatados por doentes oncológicos (DIMEO et al., 1997). Battaglini et al. (2006) encontraram diminuição significativa nos níveis de fadiga após vinte e uma semanas de exercício moderado, realizado duas vezes por semana, em pacientes com cancro de mama após cirurgia.
O resultado desse estudo sugere que o treinamento de força deve ser incluído em programas de exercícios de combate à fadiga e de melhoria da força muscular em mulheres com cancro de mama. Por isso é importante manter se ativo para ajudar a reduzir essa fadiga ajustando a intensidade e a frequência dos treinos.
A anemia é outro dos efeitos a ter em conta. Um programa de exercício físico juntamente com um plano alimentar adequado está comprovado que pode melhorar este efeito. Se a anemia for moderada pode ser realizado um programa de treino de baixa intensidade com aumentos progressivos de duração e intensidade de treino. Se a anemia for severa deverá ser consultado um médico especialista e evitar realizar atividade física até melhorar dessa condição.
A perda de massa muscular/densidade óssea é um dos efeitos de alguns tratamentos de terapia hormonal e esteroide aumentando assim a probabilidade de fratura óssea. Esta pode ser reduzida efetuando exercícios com o peso do corpo.
Alguns tratamentos podem ainda danificar o músculo cardíaco e aumentar o risco de problemas cardíacos após o tratamento.
Avaliação Física e Prescrição de Programas de Exercício
1. Avaliação Física
A avaliação física deve ser realizada com o intuito de obter a maior informação possível relativamente ao estado da doença, historial de anemia, nível de Atividade física, dor, fadiga, objeções à prática de exercício, medicação e desordem psicológica (NCCN, 2014).
Se possível, e evitando o stress e desgaste de uma bateria de avaliações e testes exaustiva, deve ser efetuada uma avaliação estática-dinâmica, de mobilidade e estabilidade, da condição cardiovascular, da força e equilíbrio (NCCN, 2014).
Uma das questões que se coloca nestes doentes é a necessidade de avaliação médica antes de iniciar a prática de exercício físico. Desta forma, podemos dividir os doentes em 3 categorias:(1)
Sem comorbidades - Não necessita de avaliação médica pré-exercício e deve-se seguir as recomendações gerais na prescrição de exercício.
Neuropatia periférica, artrite/problemas músculo esqueléticos, fraca saúde óssea (osteoporose/osteopenia), linfedema – recomenda-se uma avaliação médica pré-exercício.
Se necessário, as recomendações gerais na prescrição de exercício em função da avaliação, devem ser modificadas e o doente deve considerar o treino personalizado.
Cirurgia pulmonar ou abdominal, doença cardiopulmonar, ataxia, fadiga extrema, graves deficiências nutricionais, agravamento/alteração da condição física (Ex: exacerbação do linfedema), metástases ósseas – A avaliação médica pré-exercício é recomendada e tem de haver autorização médica para a prática de exercício. Nestes casos, recomenda-se a realização de treino com acompanhamento.
(1) (Campbell, K.L., et al., Exercise Guidelines for Cancer Survivors: Consensus Statement from International Multidisciplinary Roundtable. Med Sci Sports Exerc, 2019. 51(11): p. 2375-2390)
2. Prescrição de Exercício
Para melhor avaliar a tolerância ao exercício físico da pessoa com cancro e prescrever o programa de treino de forma segura e efetiva é necessário que o profissional de exercício físico tenha conhecimento do tipo e da extensão do cancro e estar familiarizado com:
os tipos de tratamento utilizados
os efeitos e os sintomas que resultam de cada tratamento
impacto que estes têm na tolerância ao exercício.
De forma geral podemos prescrever de acordo com o seguinte:
1. Treino aeróbico de intensidade moderada;
pelo menos 3x por semana
30min durante
Pelo menos 8 a 12 semanas
2. Treino de Força e Resistência Muscular
2x por semana
2 séries de 8 a 15 repetições
3. Treino Misto
Na altura da prescrição do programa de treino há que ter em conta algumas considerações especiais:
1. Perda de Massa Óssea/Metástases
· Evitar hiperflexão ou hiperextensão do tronco, flexão ou extensão do tronco com resistência externa
· Evitar atividades de alto impacto
· Evitar movimentos dinâmicos de rotação
· Prevenir quedas
NOTA: Sinais e sintomas de metástases ósseas em sobreviventes de cancro - “dor óssea” deve ser reportada à equipa médica para ser avaliada
2. Linfedema
O início de um programa de treino na parte inicial dos tratamentos pode reduzir o risco de desenvolver linfedema que causa o inchaço de uma parte do corpo, braço ou perna.
Apesar de não existirem evidências que a utilização de manga compressora seja benéfica para doentes com cancro da mama) o profissional de exercício deve informar os seus clientes sobre a existência da mesma e deixar à consideração do doente o seu uso.
O excesso de Peso e baixa condição física podem propiciar o aparecimento de linfedema.
Os exercícios com os membros superiores não causam ou pioram o linfedema em pacientes com câncer de mama (SCHMITZ et al., 2010).
Em casos de linfedema agudo com sintomatologia de dor, o exercício poderá ser interrompido de acordo com as recomendações médicas.
3. Idosos
Neste grupo etário os pacientes apresentam dificuldades cognitivas, neuropatia, sarcopenia, fraqueza muscular, lentidão e fadiga. A prescrição em função das linhas orientadoras desenvolvidas para a população idosa em conjunto com as específicas orientadas para a doença oncológica.
4. Neuropatia Periférica
Algumas das terapias podem causar danos nos nervos provocando algum tipo de dormência nas extremidades, pés e mãos. Por isso tem de ser avaliada a estabilidade, equilíbrio e o padrão de marcha, tem que se monitorizar o desconforto das mãos ao utilizar pesos livres e optar por exercícios de baixa complexidade.
5. Sintomas Agrupados, ou seja, vários sintomas a actuarem ao mesmo tempo.
6. Exposição Solar - Sobreviventes de cancro apresentam um risco superior de desenvolver cancro de pele secundário. No caso de o treino ser realizado no exterior este aspeto tem que ser tido em conta.
7. Ostomia
No caso de o paciente ter sido submetido a uma ostomia deve esvaziar o saco antes de iniciar o exercício. A realização de exercícios de resistência muscular deve ser com baixa resistência e com progressão lenta, os exercícios para o trabalho abdominal têm de ser modificados e os exercícios de contacto devem ser evitados pois existe o risco de rutura do saco.
8. Baixa contagem de células brancas
Alguns cancros podem enfraquecer o Sistema imunitário e reduzir a contagem de glóbulos brancos o que pode aumentar o risco de desenvolver uma infeção. Nestas situações é importante limitar o contato físico e ter atenção redobrada à limpeza dos equipamentos.
9. Baixa contagem de plaquetas
As plaquetas são responsáveis pelo controlo de hemorragias. Por isso, quando a contagem de plaquetas baixa o risco de hemorragia e nódoas negras aumenta. Há que evitar desportos de contato e de alto impacto.
10. Irritação na pele
Áreas de pele afetadas por terapias com radiação podem ficar extremamente sensíveis e desconfortáveis. Evitar natação.
11. Equilíbrio e coordenação
Os problemas de equilíbrio podem causar tonturas e levar a quedas por isso devem ser realizados exercícios para melhoria de equilíbrio e força muscular e evitar exercícios que possam propiciar esse fator, tais como, bicicleta ou passadeira.
A realização de exercícios com pesos livres só deve ser realizada com um parceiro.
Em conclusão, o estudo dos benefícios do exercício físico em doentes oncológicos é uma área em desenvolvimento e com muito ainda para explorar. Porém, com base em diversas evidências, é possível afirmar que a integração do exercício físico na rotina de doentes portadores de cancro é extremamente benéfica desde que realizada de acordo com um programa de treino adaptado tendo em conta os diferentes efeitos da doença em cada indivíduo.
BIBLIOGRAFIA
Exercise for People Living with cancer Exercise for People Living with Cancer A guide for people with cancer, their families and friends. March 2019. © Cancer Council Australia. Editor: Jenny Mothoneos.
Campbell, K.L., et al., Exercise Guidelines for Cancer Survivors: Consensus Statement from International Multidisciplinary Roundtable. Med Sci Sports Exerc, 2019. 51(11): p. 2375-2390
CÂNCER: BENEFÍCIOS DO TREINAMENTO DE FORÇA E AERÓBIO CANCER: BENEFITS OF RESISTANCE AND AEROBIC TRAINING Elaine Batista do Nascimento∗ Richard Diego Leite, Jonato Prestes, R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 22, n. 4, p. 651-658, 4. trim. 2011
Exercise Guidelines for Cancer Survivors: Consensus Statement from International Multidisciplinary Roundtable KRISTIN L. CAMPBELL, KERRI M. WINTERS-STONE, JOACHIM WISKEMANN, ANNE M. MAY, ANNA L. SCHWARTZ, KERRY S. COURNEYA, DAVID S. ZUCKER, CHARLES E. MATTHEWS, JENNIFER A. LIGIBEL, LYNN H. GERBER, G. STEPHEN MORRIS, ALPA V. PATEL, TRISHA F. HUE, FRANK M. PERNA and KATHRYN H. SCHMITZ. Medicine & Science in Sports & Exercise: November 2019 - Volume 51 - Issue 11 - p 2375-2390
American Cancer Society. Exercise Is Medicine in Oncology: Engaging Clinicians to Help Patients Move Through Cancer Kathryn H. Schmitz, PhD, MPH et al. CA Cancer J Clin 2019;0:1-17. © 2019 DOI: 10.3322/caac.21579. Available online at cacancerjournal.com
Atividade Física e níveis de fadiga em pacientes portadores de câncer – (BATTAGLINI e COLABORADORES, 2004) – Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Prof. Brunno Arnaut
Por: Bárbara Teixeira - Instrutora de Aulas de Grupo e Personal Trainer no Kalorias Montijo.
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